Na Roda
sonhos nebulosos habitam-me o sono
vem a mim uma dançarina tatuada
com asas de anjos nas nuas costas
e braceletes musicais em torno dos braços
seu quadril voa, deliciosa gaviota,
decidida, forte, cálida, garrida
um sorriso familiar
um olhar de outra vida
ela vem dançar aos meus pés
arábe, africana, nativa americana
reconhece-me, entrega-se
suada, se movimenta
em lascivas badaladas
transa comigo na frente
de todos, sua vontade
escancarada
ó gloriosa galega,
ex-mulher de um puto
qualquer que de canto
observa como antigo capataz
um caipira azedo, grotesco
e impotente, sem voz
que fala grosso
e cala depois
moça loira, sereia em movimento
vai e nada, porque em pouco tempo
te beijarei a boca e inundarei
indecifráveis sussurros no ouvido
degustarei teu suor, serei salão,
toda a roda, tua escora, a brasa
nos teus calcanhares
tua cintura libertina vai
valsar no meu corpo
tua pele, teu cheiro, teu seio
teu sexo, choca-se violentamente
em cadenciadas marteladas
teus olhos ultramarinos
irão se afogar em desespero
apegada a um amor tão volúvel
quanto indiscutível
se agarrara em mim desmantelada
gritara meu nome, gozara em
ardênte ciúme, convencida
que ama de todo o dono da roda